Para muitos, o termo tabaco tem sido frequentemente associado a cigarros e, portanto, repleto de conotações negativas – particularmente no que diz respeito à saúde e ao bem-estar geral. Resumindo um pouco, quando tratamos do tabaco puro, há muito a ser entendido sobre suas propriedades benéficas.
Durante gerações, as comunidades indígenas da América do Sul compreenderam isto e têm utilizado a planta orgânica para tratar doenças, melhorar e manter a saúde, bem como para práticas religiosas sagradas. É importante, ao discutir o uso do tabaco hoje, ver a imagem além do que está diante dos nossos olhos.
As antigas propriedades do tabaco - incluindo, mas não se limitando a ser um anti-séptico e sedativo - permitiram que ele fosse usado de muitas maneiras, especialmente nas Américas e nas comunidades nativas em todo o mundo. Não era apenas usado para fins cerimoniais e também recreativos, mas o tabaco era uma ferramenta comercial e também medicinal. Da mesma forma que hoje em dia o tabaco para fumar é comprado e vendido para negócios e lazer, era frequentemente utilizado como instrumento de negociação juntamente com as especiarias, chá, peles e sedas luxuosas, talvez mais conhecidas, que se encontrariam durante as Rotas da Seda.
Em termos de uso pessoal e local, a comunidade Taíno teria fumado tabaco regularmente. Nativo do Caribe, o povo Taíno era a maioria dos habitantes de Cuba, República Dominicana, Porto Rico e, em menor grau, Jamaica e Haiti. Esta prática de fumar tabaco é hoje melhor apreciada e compreendida através da origem etimológica da palavra ‘charuto’.
'Sikar' foi usado pelos maias para o ritual de fumar como prática religiosa, e foi observado e compreendido pela primeira vez pela civilização ocidental através do explorador e colonizador italiano Cristóvão Colombo. Bartolomé de las Casas, o historiador espanhol, também teria documentado que, “Homens com lenha meio queimada nas mãos e certas ervas para tirar os seus fumos, que são umas ervas secas colocadas numa certa folha, também secas, como aquelas que os meninos fazem no dia da Páscoa do Espírito Santo; e tendo acendido uma parte dela, pela outra sugam, absorvem ou recebem aquela fumaça de dentro com o hálito, pelo que ficam entorpecidos e quase bêbados, e por isso diz-se que não sentem cansaço. Esses mosquetes, como vamos chamá-los, eles chamam de tabacos.”
Na maioria das coisas, o excesso pode ser prejudicial, mas quando usado de forma eficiente e adequada, há aspectos positivos significativos a serem obtidos. Existem hoje mais de sessenta espécies de tabaco, sendo 60% delas nativas da América do Sul. Apenas cerca de uma dúzia contém nicotina suficiente para afetar os seres humanos.
O charuto como o conhecemos hoje é provavelmente a forma mais pura de fumar tabaco – livre de aditivos e ingredientes manufaturados prejudiciais que você normalmente encontra nos cigarros. Está, portanto, mais próximo do antigo Sikar que as comunidades indígenas das Américas desfrutavam do que os cigarros fumados hoje.
A composição de um charuto – aglutinante, enchimento e invólucro – é feita apenas com folhas de tabaco secas e fermentadas, tornando a experiência natural e não filtrada. É uma situação injusta que a indústria dos charutos seja pintada com o mesmo pincel que outras formas de fumar tabaco que são significativamente prejudiciais, mas como se costuma dizer - conhecimento é poder. Quanto mais soubermos e mais conseguirmos compreender, maior será a capacidade que teremos de mudar a narrativa.
